Ela via o mundo sem traduzi-lo do modo tradicional. Na
rotina do barulho, tudo em si era silêncio. No reduto dos “sãos”, será que era muito
errado contemplar o movimento com calmaria?
No choque entre a sanidade e a loucura (com suas causas
e suas curas) o dia nasceu novo. Mãos, toques e pontas de pés: dançou nas linhas
dos sentimentos, explorando seus tantos outros sentidos (e os sentidos de
tantas outras coisas).
E em um misto entre a pureza de uma criança com a
doçura e sensibilidade de uma mulher, descobriu o amor em sua forma mais
completa: ele residia logo ali, na fronteira estreita que separava os sonhos da
realidade.
Ensaiou os passos e se lançou no desconhecido, em um
movimento puro, pleno e lindo, dentro de um universo paralelo onde independente
de suas limitações, TUDO era música e poesia.
Sorrindo em um abraço, tudo era novo. Ela era nova.
Voou.
O teatro nos ensina a ver a vida de forma diferente. Ou
reforça ainda mais as nossas visões mais recorrentes. Fotografá-lo é colocar na
mesma linha câmera, cabeça e coração.
Ontem olhei para esse registro que fiz no último
domingo e chorei. Chorei porque vi o que talvez ninguém mais veja. E hoje, dia
21/02/2014, dedico essa foto a mulher que com mãos de ferro e amor
moldou meu caráter.
Porque, em cena, uma mãe se transforma em uma asa para
seu filho. Seria ela um anjo? Seria ela alguém que esqueceu seus próprios
sonhos para fazê-lo sonhar?
Mamãe, obrigada pelas suas asas.
Obrigada por impulsionar meu vôo, obrigada por ser meu anjo. Eu amo você.
Obrigada por ser minha mãe.
Ela sorriu. Durante os ensaios, mesmo no meio de risadas
e brincadeiras. Ela sorriu e continuou olhando para frente mesmo quando alguém
quis distrair e disfarçar o seu sorriso. No fatídico dia, quando todas as luzes
se apagaram, quando a cortina abriu e os refletores miraram o palco, ela entrou
em cena. Para amenizar tantas indagações e consolar milhares de pensamentos,
ela olhou adiante.
E sorriu.
*Porque algumas muitas vezes, das fotos surgem textos.
Das imagens, poesias.
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