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quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Sonho despertado sob sirenes de bombas  


Tinha 11 anos quando começou a guerra do Iraque. Lembro que em um determinado dia de 2003 estava passando pela sala de casa quando o repórter Marcos Uchoa falava ao vivo de lá. A imagem era ruim e o barulho das sirenes e bombas extremamente angustiante. Naquele momento o mundo assistia ao vivo pelo jornal os desdobramentos da guerra. Por alguma razão alheia à minha vontade, uma chama se acendia dentro de mim e despertava o tal do brilho nos olhos. Mesmo com o horror da guerra, dois repórteres estavam fazendo a diferença, dando vida à morte.

Sou Rafaella Martinez Vicentini, 22 anos, brilho nos olhos e guardo vivo o sonho de mudar o mundo. Filha de pais divorciados, fui criada com mais dois irmãos pelas mãos de ferro e amor da minha mãe.

Dona Roseli nunca nos obrigou a fazer nada. Ela nos mostrava sempre os diferentes caminhos que podíamos seguir e as consequências de nossas escolhas: a ação, dependia de nós. Talvez por esse motivo, por não termos sido forçados a nada, eu e meu irmão tenhamos escolhido tentar ser tudo e abraçar todas a oportunidades gratuitas que tínhamos. Foi assim que fomos campeões no tatame, patrulheiros do CAMPSV, estudantes do ensino técnico estadual e bolsistas do PROUNI.

Acredito que ninguém “escolhe” ser jornalista. Essa profissão é um sacerdócio: é preciso muita paixão. Não há dinheiro no mundo capaz de pagar todas as coisas maravilhosas que o jornalismo proporciona: as grandes lições de vida e a oportunidade de aprender de tudo um pouco. Informar para transformar, noticiar para desenvolver, instigar e afeiçoar.

Ainda hoje estou em processo de construção, sendo difícil definir exatamente quem sou. Sou a menina de olhos verdes que passou a infância com a cara enfiada nos livros e sonhando com um futuro repleto de palavras e hoje, o que mais quero nesse mundo é viver para contar histórias. Foi por amor que comecei a construir meu próprio caminho, ainda em 2013. Como não conseguia largar o emprego formal, ingressei voluntariamente no projeto inusitado de um amigo visionário. A revista digital santista Sanatório Geral de Artes Visuais expandiu todos os meus horizontes, além de ensinar na prática a lidar com as mídias digitais e o texto de revista. Foi graças a ela que me envolvi com cultura, carro chefe do meu portfólio profissional hoje.

Sete meses antes do término da faculdade decidi jogar tudo para o alto e trilhar definitivamente a estrada para a realização dos meus sonhos (sem volta, se Deus quiser!). Quatro dias após a minha decisão de bater o martelo e ir atrás de um estágio formal, ingressei no Sistema A Tribuna de Comunicação, onde tenho contrato de estágio até o dia 31/12/2014. E 2015? É uma incógnita para mim, mas tenho certeza que muitas portas irão se abrir. De uma forma que eu não entendo e não consigo explicar, sei que o futuro reservará coisas boas, pois “nada que é feito com amor é pequeno ou sem valor” e AMO o que faço.

Minha paixão pela profissão é reforçada diariamente. Acredito que o ser humano é um poço infinito de histórias e ouvi-las e contá-las é um processo essencial para que eu possa construir a minha.

No punhado de histórias que guardo no bolso, há uma simpática senhora em um banco de praça e um menino guerreiro que não aceitou desistir. A mais marcante foi uma que vivi nos primeiros dias do estágio, em meados de maio. Ela é a minha lâmpada nos momentos em que eu fraquejo ou quando as coisas não acontecem da forma como eu gostaria.

Já era fim de tarde quando eu atendi uma ligação de uma senhora desesperada, pois, segundo ela, um amigo havia sido preso injustamente. Ouvi a história toda e quando desliguei o telefone, achei que os argumentos da mulher eram muito coerentes. Passei para meus editores e fomos atrás da verdade: contestamos incoerências, compramos a briga e o rapaz conseguiu a liberdade provisória para provar sua inocência aqui do lado de fora.

Uma semana depois, recebemos um e-mail de gratidão. Pensei em responder, dizendo tudo isso que estou dizendo agora. Não o fiz. Só eu sei o que essa história representa, o que significa pra mim. Ele é a prova incontestável de que nós podemos sim mudar o mundo! O mundo de alguém.

Em suma: sou o reflexo de tudo o que vivi e a consequência de todas as transformações que passei. Amo ouvir e contar histórias: é uma necessidade para mim. Escolhi ser jornalista, ou melhor dizendo, aceitei essa missão, por acreditar que com meu trabalho e minhas palavras serei capaz de mudar o mundo de vários alguéns – a começar pelo meu.

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